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Variedades de cana-energia produzem mais etanol em áreas restritivas e atendem demanda para cogeração de energia

Com o único programa de melhoramento genético voltado ao desenvolvimento de variedades específicas para ambientes restritivos, Nuseed vê número de usinas que adotam seus materiais dobrar em dois anos

Em um mundo que se discute cada vez mais a importância da transição energética para reduzir a emissão dos gases de efeito estufa, a cana-de-açúcar se destaca por seu potencial de geração de etanol e, mais recentemente, pela biomassa oriunda de variedades com mais fibras, que podem ser usadas na geração de biocombustíveis e bioeletricidade. A Nuseed, braço de melhoramento genético e inovação do grupo australiano Nufarm, mantém o único programa de melhoramento genético no Brasil voltado exclusivamente para o desenvolvimento de variedades da chamada cana-energia. Os materiais são caracterizados pela maior produtividade em ambientes restritivos e pela produção superior de biomassa.

De acordo com Ricardo Bendzius, diretor de bioenergia em cana-de-açúcar da Nuseed, a biomassa é um componente muito importante para a transição energética e para que os países consigam atingir suas metas globais de redução de gases de efeito estufa (GEE). “No caso da cana-de-açúcar, temos visto um aumento no interesse por variedades que gerem mais biomassa. Desde 2022, a Nuseed dobrou o número de usinas que utilizam seus materiais de cana-energia, saindo de 24 parceiros para 48, atualmente. A meta é chegar a 80 usinas parceiras até 2026”, afirma.

O programa de melhoramento genético da Nuseed tem uma característica clara: desenvolver variedades de cana-energia, mas que além de produzirem mais biomassa, também gerem grandes quantidades de etanol em áreas desafiadoras, ou seja, com por solos arenosos, baixa fertilidade e déficit hídrico. “Nossas variedades atendem à demanda atual da indústria e serão muito importantes para as demandas que estão por vir na geração de biocombustíveis e bioeletricidade”, explica.

Segundo o executivo, uma soqueira de cana-energia garante produção por oito safras, o dobro de uma cana convencional. Isso reduz os custos e consumo de combustíveis fósseis para a reforma do canavial. “Além disso, nossas variedades vêm entregando produção de 10 toneladas de sacarose (TAH) por hectare em ambientes restritivos, acima das variedades tradicionais nesses mesmos ambientes, que é de 8,5 toneladas por hectare”, afirma.

A meta da empresa é crescer em áreas de ambientes restritivos, onde há necessidade de materiais tolerantes ao estresse hídrico. “Acreditamos que a expansão da cana-energia aconteça em áreas que não têm vocação para a produção de alimentos e em locais em que as variedades tradicionais não performam”, explica Bendzius.

Entenda o que é a cana-energia

As variedades de cana-energia Vertix, disponibilizadas no mercado pela Nuseed, possuem mais fibras (3-4%) do que as cana-de-açúcar convencionais, o que gera um excedente de bagaço, para cogeração de energia.

Quando comparada com variedades convencionais, a cana-energia possui maior eficiência no uso de água e nutrientes, além de mais resistência a danos causados pelo tráfego de equipamentos, que danificam as soqueiras.

“Com a cana-energia é possível ainda aumentar a longevidade dos canaviais, com ciclos de até 10 anos. Elas ainda podem ser cultivadas em áreas ambientes restritivos. Trazem ainda maior sequestro e fixação de carbono por meio do seu sistema radicular e capacidade fotossintética e podem substituir as variedades tradicionais com maior rentabilidade por área”, explica Bendzius.

Etanol reduz em 85% emissões de gases do efeito estufa

Atualmente, o etanol, derivado da cana-de-açúcar, representa cerca de 45% do combustível utilizado em veículos leves no Brasil e reduz em até 85% as emissões de gases de efeito estufa em comparação com a gasolina.

Considerando apenas as áreas cultivadas de cana, a quantidade de carbono removida (9,8 MtCO2/ano) acumulada nos 20 anos avaliados representa uma remoção total de 196 MtCO2, o que seria equivalente a plantar 1,4 bilhões de árvores, ocupando uma área superior a 1 milhão de campos de futebol ou 80 vezes a cidade de Paris coberta por floresta.

“Ao longo dos anos, a cana-de-açúcar passou a desempenhar um papel fundamental na busca pela sustentabilidade, não apenas como uma alternativa econômica aos combustíveis fósseis, mas também devido à crescente conscientização ambiental da população”, afirma Bendzius.

Essa história se iniciou em 1975, quando o Governo brasileiro deu início ao programa Proálcool em resposta à crise do petróleo, reconhecendo a necessidade de encontrar alternativas econômicas aos combustíveis fósseis importados. A indústria canavieira respondeu a esse chamado, expandindo-se para atender à crescente demanda por etanol. Em 2003, houve a introdução de motores flex fuel, que podiam funcionar com etanol e gasolina e a importância do etanol como combustível alternativo se consolidou ainda mais.

“Hoje, vemos uma evolução no setor, com a inauguração de usinas de produção de etanol de segunda geração. Esse movimento tende a se intensificar muito. Em 2025, o mundo verá o Brasil sediar o maior fórum da história das Nações Unidas: a COP 30 em Belém (PA), que discutirá as mudanças climáticas e tratará de alternativas para melhorar as condições do clima, em especial no trabalho para a redução dos gases de efeito estufa. A cultura da cana-de-açúcar terá um papel fundamental para isso”, afirma.